Vencendo a tentação.


Se és filho de Deus...
     O que vem a mente quando pensamos em tentação, quais são as cores, formas ou situações. A tentação está associado a palavra não pode, é proibido, se ceder irá se arrepender mais tarde. A tentação é na cor vermelha, lábios com batom, uma maçã, um pedaço de doce, uma mulher seminua, um olhar pela fechadura, uma ratoeira e hoje em dia uma clicada. Na bíblia encontramos narrativas da queda de Adão e Eva, ao comer o fruto, a curiosidade da mulher de Ló ao olhar para trás, Moisés ao ferir a rocha sobre a pressão do povo, Acã com os objetos roubados, Saul com o sacrifício, Davi com Bate-seba e o senso. Na mitologia temos A caixa de Pandora e sua curiosidade, Ícaro com asas de cera e seu desejo de se aproximar do sol, Tântalo ao roubar o néctar dos deuses.
      Ceder a tentação sempre tem haver com queda, rebaixamento, humilhação, vergonha.  Zigmund Baumann diz que, A perda da inocência é um caminho sem volta. E realmente aquele que sede é marcado pela queda, culpa, ressentimento. As narrativas sobre tentantação sejam bíblicas ou mitológicas tem um caráter pedagógico. Ensinando a ser firme diante das situações que surgem na vida seja cobiça, curiosidade, medo, ganância.
      Nos início de três dos quatro evangelhos temos a narrativa da tentação de Jesus e nela se revela quem é, e quem não é Jesus. Ao olhar a tentação de Jesus em alguns aspectos mais estranhamos do que nos identificamos. Jesus é Deus sendo tentado. Já nós, não! Somos uma criatura que sente-se tentada por si mesmo. Como disse Tiago, cada um é tentado segundo o mau desejo de seu coração. O diabo quer levar Jesus afirmar quem ele é através de sugestões egoístas e humanas, Jesus não busca se afirmar com vaidades, se revela como filho de Deus, através do que é. Ele conhece a palavra de Deus, sabe de uma verdade histórica dita por Deus, “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor” Dt 8:3 NVI.“Não ponham à prova o Senhor” Dt 6:16 NVI Mais do que gravar excertos da Torá, Jesus tem convicções sobre quem ele é, e quem o Pai é. A convicção é um alicerce que contribui poderosamente para que a tentação seja vencida.
      Quando Jesu foi batizado por João Batista no rio Jordão uma voz do céu disse esse é meu filho amado Mt 3.17. Deus afirmou quem Jesus é. Após isso Jesus foi levado para o deserto para ser tentado. E o tentador faz uma pergunta, “Se és filho de Deus”... Essa pergunta do tentador é capciosa, tem a intenção de levar Jesus afirmar aquilo que ele já é, através de uma demonstração. Essa pergunta, se eu sou, se tu és, se ele é. Abre um vazio no ser, pois irá buscar respostas dentro de si mesmo se realmente é o que diz ser. O diabo é um expert em marketing. Tenta abrir uma fenda em Jesus para que ele se questione se é ou não, ou se virá a ser filho de Deus caso transforme a pedra em pão, ou caso os anjos o segure. A pergunta do tentador é ontologia. O ser é imutável pois ele não pode vir a ser, ou seja, não ser e passar a ser. Ou é ou não é, Deus disse que ele era e isso é o suficiente.
      Quantas vezes as pessoas são tentadas em abusar de sua autoridade ou ultrapassar os limites de seu poder, ao usarem do poder para dar um show e afirmar quem são. Quantas pessoas dizem: aqui quem manda sou eu, como na ocasião de Moisés ao ferir a rocha, e fazem isso para provar que são alguma coisa. Nessa ocasião a dúvida é um perigo, o que é maravilho que Jesus revela que é filho de Deus pela respostas que dá não pelo poder que manifesta. Jesus é verbo de Deus.
      Agora o tentador usa outra  estratégia oferecer os reinos do mundo em troca de adoração. “Todos os reinos do mundo e seu esplendor” O sociólogo, cientista político, professor e teólogo Jacques Ellul, escreve em sua obra Anarquismo e cristianismo, ele que ocupou sua vida estudando a relação da política com a religião, nesse excerto vemos sua preocupação com o poder político que foi oferecido para Jesus na tentação do deserto.
       “todos os reinos da terra”, não somente da monarquia herodiana. E o que esses textos estão afirmando é, de fato, extraordinário: todo poder e domínio, toda a glória desses reinos, portanto, tudo o que diz respeito à política e às autoridades pertence ao “Diabo” tudo isso lhe foi entregue e ele dá a quem quiser. Assim, todos que detém o poder político e recebem do Diabo e dependem dele.¹
      Quando lemos todos os reinos da terra, o tentador não está falando de sistematização do reino animal, vegetal e mineral. Ele está oferecendo os reinos que ele construiu desde Babel até Cessar toda gloria e suntuosidade. Se as algumas pessoas acham que conhecem história, o adversário conhece muito mais, ele faz parte e tem muita  contribuição histórica.
      Satanás sabe muito bem da profecia de Daniel 2, uma pedra que destruiria todos os reinos. Jesus também tem um reino para oferecer o reino de Deus. E Jesus não trocaria a pérola de grande valor por colar de missangas. É assim que Jesus vê o reino humano apenas fumaça, névoa que passa. Poder e materialismo não paralisa Jesus, ele transpõe essas coisas. Satanás está tentando a natureza humana de Jesus e Jesus está rebatendo com sua natureza divina. Pense tudo que a humanidade construiu e institui desde o Édem é nada para Jesus, ele não veio para terra para tomar um poder humano, ele veio oferecer perdão e um poder divino.
      Jesus não inveja os imperadores, cessares, kaisers, reis e presidentes Jesus não flerta com a política, pois sabe que a política faz é aliviar o que ele pode curar. Jesus não tem um partido que é devoto seja a direita ou esquerda, por que eles mesmo é o CAMINHO. Jesus não é um revolucionário político como Judas macabeus, nem um conservador fariseu ou saduceu helenista, Jesus não democrata ou  republicano. Jesus é Rei de reis. Jésus a pedra de esquina.
      Aqueles que puderam visitar  o que sobrou das sete maravilhas do mundo antigo desde a grande pirâmide de Gizé até o Farol de Alexandria ficam assustados diante da glória das construções e sua arquitetura. Para Jesus os esplendores e glória dos mundo não são sublimes. Jesus veio justamente para mostrar a sujeira que está escondida nas belezas construída pelos homens. Não foi atoa que ele criticou os mausoléus dos profetas. Jesus vence a tentação pois ele mesmo é a rocha que destrói a estátua e a partir dele constrói um reino e fará com que seu reino não tenha fim. Dn 2.44 .
      As tentações de Jesus são indutivas, Jesus foi levado ao deserto, a tentação revela como um tubo de ensaio revela a verdadeira natureza de algo. Quando somos expostos a certas ocasiões, essa ocasião revela o caráter. A tentação cedida ou suportada irá revelar a mim mesmo quem eu sou e o que sou capaz de suportar. Tentação e desertos são partes da vida cristã chegam a ter uma característica de ritos de passagem, cada tentação ou deserto vencido.
      Porque a tentação de Jesus parece estranha em alguns momentos, justamente por nem sempre ter alguém do lado de fora de nós sugerindo que façamos algo, como um diálogo. É, que esse diálogo, já está dentro das pessoas cobiçando querendo ter o que não não lhe pertence. Nos dez mandamentos um deles é não cobiçar, porque esse mandamento porque Deus sabe que cobiçamos queremos ter o que não nos pertence. queremos ser, ter e fazer.
      Diariamente temos de lutar num mundo cada vez mais concorrido, não temos tempo para pensar e tomar uma decisão assim no cansaço do dia a dia muitos tem cedido num ou outra tentação, somos tentados pela preguiça, procrastinação, distancia, limitações. Tudo é pra ontem, sem tempo de raciocinar. Todos querem um resultado imediato, o agora e não o depois. Administrar a tentação é um exercício para a mente. Roy F. Baumeister e John Tierney, no livro Força de vontade - Redescoberta do poder humano, diz:
     
      Se você está tentando resistir à tentação, poderá se dar conta de que sente mais intensamente os desejos proibidos exatamente quando a sua capacidade de resistir a eles está enfraquecida. A depleção do ego cria portanto uma dupla praga: a força de vontade diminui e os anseios são mais fortes do que nunca.²
      Depleção do ego é um conceito da psicologia quando estamos sobre uma pressão mental onde envolve tomar decisões. Lavar uma roupa ou a louça, escolher entre perder algumas gramas ou comer mais 500 pontos de caloria, concluir um trabalho ou dar uma corrida no parque. A miscelânea de decisões a ser tomada diariamente faz com que emoções e tomadas de decisões enfraqueça a força de vontade, assim cedendo facilmente à tentação. É assim na vida de qualquer um quanto mais as opções são adicionadas mais há possibilidade de ser pego por um depleção do ego. Tomando decisões impensadas pondo em risco a própria vida e a vida de outros.
      Flertar com a tentação é um perigo constante, se um cara tem problemas com álcool dar uma passada no bar depois de um dia difícil é a pior coisa a se fazer, se uma pessoa recebeu um fora e ao mesmo tempo está numa dieta, ficar abrindo uma geladeira cheia de guloseimas não é recomendado, se uma pessoa tem problemas com pornografia ficar na internet depois uma briga com o cônjuge pode ser a pior coisa a se fazer. Flertar com a tentação é como o laço do passarinheiro você cai e é certo. Não tem como ficar cortejando algo e evitá-lo ao mesmo tempo. Jesus disse algo radical.

E, se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno. Mt 5:30 NVI
     
      Se alguém quer vencer a tentação é preciso ser radical com tudo que lhe faça ceder.  Uma tentação não se vence cedendo cada vez menos, se vence sendo firme, sendo agressivo, enquanto não vê aquilo que tenta como um adversário a pessoa não luta com todas as forças. Veja como Deus diz para Adão:
não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá”. Gn 2:17 NVI
     
      Quer inimigo maior que a morte, foi assim que Deus encarou a possibilidade deles comerem o fruto. A melhor forma de vencer a tentação é não dar atenção a ela, não tem outro caminho, ser radical é o certo. Uma tentação dura um momento, mas traz consequências eternas. Parece exagero a palavra eterna, contudo quantas pessoas que têm a reputação marcada para o resto da vida porque um dia deram bobeira e caíram numa tentação, reconstruir uma reputação pode durar longos anos e até a vida toda e para uns chega a ser impossível.
      Uma pessoa que realmente quer vencer uma tentação busca ajuda, confessa, busca um padrinho, um mentor para andar junto. A tentação é vencida diariamente nunca de uma vez. A bíblia diz que o diabo esperou outra ocasião para tentar Jesus, com a gente não será diferente.
     
¹ Jacques Ellul - Anarquia e cristianismo - Garimpo Editorial
² Roy F. Baumeister e John Tierney - Força de vontade: a redescoberta do poder humano - Lafont
Fonte imagem: https://www.tagoras.com/best-practices/

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